Olá, você! Como estamos hoje?
Estou leve, após uma semana cansativa, mas recompensadora. Enfiei a cabeça numas caixas, joguei muita tranqueira fora, liberando espaço no escritório para poder pintá-lo e… ficou lindo. Só falta escolher quais prints vão decorar o espaço e catalogar os livros que possuímos para escolher como organizá-los nas prateleiras.
Pensei que a catalogação seria mais ligeira, porém tenho muitos livros. Muitos. Finalmente criei um sistema para esse processo1, mas acho que vai pelo menos uma semaninha nisso — se eu me dedicar com afinco. E, como eu estava longe de terminar a tarefa, chegou o momento que eu mais temia: precisei procurar um livro específico no meio das pilhas.
Fiz uma bela duma bagunça, mas foi por um bom motivo: As margens e o ditado era um dos 6 livros sugeridos pela biblioteca Mário de Andrade para doação em troca do cancelamento da minha suspensão de empréstimos — que duraria até 2029. Isso porque fiquei 6 anos sem devolver 3 livros.
Não tenho orgulho, tampouco uma boa justificativa para isso. Entendo quem deteste um estranho que nunca devolve aquele livro que se quer tanto ler — já detestei, inclusive. Para uma pessoa que tanto acredita nas bibliotecas e tanto busca incentivar que todes as frequentem, certamente vacilei feio e rude.
A justificativa que dou para mim mesmo — afinal, sou a pessoa com quem mais convivo — é: foi uma mistura de esquecimento (abraçadinho ao TDAH) com luto. Um dos livros emprestados era O assassinato de bebê Martê, de Elvira Vigna, escritora cujas obras completas eu queria terminar de ler. Eu estava desempregado, totalmente sem grana, e não era um livro fácil de encontrar baratinho em sebo (como está esgotado e não tem muitos exemplares por aí, tem lugar vendendo por R$160).
Elvira morreu na mesma época em que peguei o livro. Para além de ser uma escritora que eu admirava, ela sempre muito legal comigo, uma mãezona. Foi a primeira morte que senti fundo. Não espero fazer sentido, mas não ler o livro — e, assim, ficar com ele muito mais tempo do que o permitido pelo empréstimo — foi uma forma de adiar o adeus — ou uma parte ínfima dele. Deixar o livro parado, meio escondido, numa prateleira era esquecer a razão para Elvira demorar tanto a me chamar prum café com bolo era de natureza definitiva, não o sumiço de quem está trabalhando nos arranjos finais de seu próximo.
Demorei tanto que veio uma pandemia, uma breve mudança para Natal, um novo amor. Aliás, ele que separou os livros da Mário de Andrade para que ficassem mais visíveis e eu lembrasse deles quando fosse passear pelas bandas do centro.
Doar os 6 livros que me pediram — e voltar a fazer empréstimos do acervo dessa biblioteca, o que já fiz! — ajudou a desatar um nó em meu peito e me fez sentir que as coisas vão dar certo, eu só preciso fazer a minha parte.
Rolês preferidos da semana: Foram dois. O primeiro, na quinta passada, foi quando tomei chá de ayahuasca pela primeira vez e… foi incrível! Cogitei escrever a respeito na carta de hoje, mas sinto que ainda faltam palavras. Lembro que Thiago perguntou se estávamos lembrando de celebrar as pequenas e grandes vitórias, momento em que pensei nos discos mais recentes que tinha acabado de adquirir.
O segundo rolê foi no último domingo, um powerpoint brunch: todes prepararam apresentações de temas de seu interesse e compartilharam com o grupo. Temas muito variados: as Lobas do K-pop, por Taize; a importância de ter hobbies (e não monetizá-los), segundo Simone; a treta entre os herdeiros do Gugu, por Diana; os canais científicos mais legais do YouTube, segundo Leandro. Eu e o boy falamos sobre nossa coleção de discos: ele sobre seus 10 preferidos, eu sobre minha relação com Marisa Monte (e a primeira coleção completa de um artista que temos em nosso acervo). Foi muito legal!
Estou assistindo: Mr. Robot — terminei de assistir e, por mais que não tenha me conectado muito com os últimos episódios (achei a resolução apressada), fico feliz de ter insistido na série, pois tem muita coisa boa nela2; Justiça — a minissérie de Manuela Dias é o que decidi assistir na Globoplay enquanto ainda tenho assinatura (faz sentido ver uma produção brasileira), tô adorando ver algo gravado em Recife.
Vi também: Abigail — que filminho uó! A melhor coisa dele é o pôster.
Lido: Elke: Mulher Maravilha, de Chico Felitti — livro gostoso de ler, deu para conhecer mais dessa figura tão icônica, deu vontade agora de uma coletânea só de fotos dela em todas as épocas; As margens e o ditado, de Elena Ferrante (tradução de Marcello Lino) — uma boa leitura, rapidinha, que parecia exclamar “termine de ler minha tetralogia!”; Engaiolaram-nos, de Patrícia Cândido, Camila Lopes Felizardo, Nathalí Estevez Grillo e Rosângela Teixeira Gonçalves — um cordel de leitura rápida com textos sobre mulheres no sistema prisional brasileiro; e Vó, de Jean Galvão — mais uma leitura rapidinha, essa é mais divertida, perfeita para procrastinadores contumazes.
Lendo: Três camadas de noite, de Vanessa Barbara — mal ganhei o livro, já furou fila! Reclamem com ela se não enviei esta carta mais cedo: preferi ficar lendo durante a tarde de ontem.
Como vai o romance: Na última carta falei que decidi reler Orlando, né? Pois bem: descobri que haverá um encontro online do clube de leitura da Biblioteca Villa-Lobos sobre esse livro. Só não vou se o horário bater com uma palestra de Emanuela Siqueira no SESC 14 Bis sobre Virginia Woolf. Mas vou usar o clube para me incentivar a releitura.3
O primeiro na vitrola: #1, de Jaloo.4
Hoje também ouvimos: Caribou, de Elton John; Berlim, Texas, de Thiago Pethit; Estrela decadente, de Thiago Pethit; Rito de Passá, de Mc Tha; Além do lá, de Aláfia; Jaquatirica Print, de Luísa e os Alquimistas; Cinco, de Silva; Me chama de gato que eu sou sua, de Ana Frango Elétrico; Mahmundi, de Mahmundi; Dolores Dala Guardião do Alívio, de Rico Dalasam.
Recomendo: comprar o novo romance de Vanessa Barbara pra gente poder comentar junto! Que tal? Não sei fazer clube de leitura5, só sei que ia adorar ter com quem conversar sobre esse livro!
Até falei que não ia sair, mas não é que rolou o primeiro na vitrola semana passada? Foi sobre Destino de aventureiro, de Ney Matogrosso, e o acesso já está liberado para os assinantes pagantes. A próxima coluna para estes será sobre Love Tracks, de Gloria Gaynor — pode chegar no final de semana ou só quinta que vem mesmo.
Hoje os assinantes gratuitos também receberam a edição #4, que foi sobre Chromatica, de Lady Gaga.
Um abração grandão,
Arthur Tertuliano
Na avaliação neuropsicológica, a psicóloga constatou que meu nível de desatenção é bem alto (por exemplo, essa frase quase ficou pela metade porque fui tirar a pizza do forno e esqueci que estava escrevendo uma nota de rodapé), mas que sou bem metódico. Depois que descubro o jeito mais eficiente de fazer algo, a tarefa flui que é uma beleza.
Talvez eu precise parar e escrever sobre a série. Cogitei fazê-lo na carta de hoje, mas senti que não ia rolar escrever rapidinho e hoje tenho um dia cheio: devolver livros atrasados para a biblioteca, almoçar com um amigo querido, ir para um curso no SESC, fazer a doação que falei acima e ir para um aniversário à noite, depois de duas semanas caseiro sem ir pra balada. Mas lembrei de muita referência massa: Kill Bill, Alice no País das Maravilhas, Os Sopranos, Breaking Bad, Matrix, United States of Tara, Fleabag e, indubitavelmente, Clube da Luta.
Deve estar difícil acompanhar esta seção semanalmente, né? Se minha procrastinação toda estiver dando nos nervos, me fala, que dou um sumiço nela! Na seção, não na procrastinação.
Duas semanas atrás escrevi numa nota de rodapé o seguinte: “Fun fact: os dois discos que eu almejava na primeiríssima carta dessa newsletter — esse e Melodrama, da Lorde — já fazem parte da nossa coleção. Espero daqui a 10 semanas poder dizer o mesmo dos dois que citei na última carta: #1, de Jaloo, e Rito de Passá, de Mc Tha.” E já consegui comprar ambos, num valor bem mais em conta do que encontrava nas lojas de discos. Agora vou direcionar meu magnetismo pessoal para a busca por um emprego, pra ver se vem aí.
Mentira, sei sim, já fiz um quando trampei no Nubank.