Olá, tudo bom?
Tem um canção dos Loser Manos que diz:
Eu que já não quero mais ser um vencedor
Levo a vida devagar pra não faltar amor1
Musicar o contraponto entre jogo e amor é tão clássico quanto o famoso ditado. Quase nove anos de São Paulo e não podia concordar mais com Rita Lee: “sexo é escolha, amor é sorte”.
No último domingo, fui pela primeira vez a Santo André, visitar Fefa e Barbarinha para o rolê mensal com amigas. Dessa vez o brunch foi acompanhado de jogos de tabuleiro, com muitas opções disponíveis: Catan, Telma, Uno, Exploding Kittens, Dixit, Master: Entretenimento, Modern Art, Ramen Fury e Palavras Cruzadas são os títulos que lembro de ver na mesa.
Só de terem Master — numa edição que eu não conhecia — já fiquei feliz. Esse era o meu jogo favorito quando criança. Não lembro ao certo com qual idade convenci meus pais a comprarem ele pra mim de aniversário: uns 10, talvez — quatro a menos que a idade mínima recomendada na caixa.
Foi aos 7 que o joguei pela primeira vez, numa casa de praia em Serrambi, cujo mar tinha a água mais transparente que vira, onde pela primeira vez assisti a Ardida como pimenta e provei um creme de macaxeira com pedacinhos de queijo coalho semiderretido e carne de sol fritinha. Não queriam me deixar jogar — “já é tarde, vai lá ver algum musical até dormir” —, mas alguém decidiu ser bonzinho comigo depois de me ver empolgado acompanhando uma partida inteira. Senti-me incrível por jogar pau a pau com os adultos, inclusive vencendo algumas vezes.
Voltemos ao presente: na casa das meninas, dividimos o grupo em duas mesas: três de nós foram jogar Palavras Cruzadas (um Scrabble, sem tirar nem pôr) e outros três foram de Exploding Kittens. Fiquei entre estes: como não querer brincar com cartas engraçadas de gatinhos? Adorei! Depois trocamos os grupos e um foi de Modern Art, enquanto fiquei no que jogou Master: Entretenimento e Telma. No fim, todo mundo se reuniu para uma partida de Dixit.
Novo parêntese: quando vou em rolês de jogos, tento conter minhas expectativas — temo o sorriso amarelo e sem graça de quem não sabe perder — e me concentrar na diversão. Hoje sei que sou competitivo, mas demorei pra admitir isso. Apesar da minha paixão por Master, nenhuma criança queria jogar comigo. Já adolescente, a galera da igreja só queria saber de War quando passávamos um feriadão em Porto de Galinhas. Acostumei-me a perder, enquanto fingia me divertir com meus pares se mancomunando para destruir meus exércitos e conquistar meus territórios, mesmo quando não eram seus objetivos.
O que era bom: quanto mais empolgado, mais difícil de esconder meu jeitinho — é assim até hoje. Melhor emburrado e preso ao jogo, com apenas um exército e sem poder algum de mudar minha história. Nada muito distante de como era minha vida fora do jogo, mero espectador de escapulidas e beijos e namoros às escondidas de heterossexuais. E me especializei em disfarçar o bico.
Dito isso, não me preparei para vencer. Venci em Exploding Kittens, Master: Entretenimento e Telma. Estava me divertindo tanto, mesmo na bagunça doida que é Telma, que resolvi fumar um beque e jogar levinho. Estava com amigas queridas e mozão, temi descobrir que estava animado apenas por ganhar, não porque o rolê estava massa. (Laudo: dodói da cabeça.) Quando começamos Dixit, eu estava chapadíssimo, já entrando na fase da larica, fazendo misturas inauditas, tais como panetone de chocolate coberto de uma dos melhores guacamoles que comi na vida. E mimosas, claro.
No começo dessa carta falei do antagonismo entre amor e jogo, mas tô com Caetano quando canta “meu amor, você me dá sorte na vida”. Nas duas partidas de Dixit houve uma rodada em que só Alex conseguiu entender qual era minha carta pela dica dada (juro que não recorri a piadas internas do casal).
Fui apelidado carinhosamente de “mau vencedor” (eu realmente vibrei com as duas vitórias no Dixit, uma junto com Diana), mas voltei pra casa com o coração quentinho. Estava entre pessoas que amo, que não querem me ver menor.
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Rolê preferido da semana: o rolê de jogos foi excelente, mas já dominou esta carta. Aproveito para destacar a festa SERVING CUNT CHROMATICA STYLE, na Zig Duplex. A gente combinou de dormir cedo para não perder a hora do brunch, mas um VIP de última hora nos animou subitamente. Vivemos!
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Estou assistindo: True Blood (faltam apenas 2 episódios para terminar a quinta temporada, de longe a que menos gostei), Vale o que tá escrito - a guerra do jogo do bicho (maratonei e já quero a segunda temporada) e Avatar: The Last Airbender (o seriado de ver no almoço). Percebi que na última newsletter esqueci de falar que terminei True Detective — Terra Noturna: estou entre os que gostaram bastante do episódio final.
Vi também: The Blackening (rimos demais), Nausicaä do Vale do Vento (decidi que, depois de ter maratonado Yorgos Lanthimos, vou ver tudo do Hayao Miyazaki; gostei desse, mas admito que vi em suaves prestações antes de dormir) e Cantando na chuva (eu não queria rever, mas o boy me convenceu mostrando que o filme era curtinho e… um clássico é um clássico, bom demais!).
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Li: A princesa e o queijo quente, de Deya Muniz (tradução de Lavínia Fávero); Como um romance, de Daniel Pennac (tradução de Leny Werneck); O livro do figo, de Lilian Sais.
Abandonei: Vidas imperfeitas - edição especial de 10 anos, de Mary Cagnin.
Lendo: Capa preta, de Lourenço Mutarelli; Beyond the story: uma história dos 10 anos de BTS, de Myeongseok Kang (tradução de Luara França); Mortos de amor, de Junji Ito (tradução de Drik Sada).
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O primeiro de hoje na vitrola: No tempo da intolerância, de Elza Soares.
Hoje também ouvimos: Judy at Carnegie Hall, de Judy Garland; Jaquatirica Print, de Luísa e os Alquimistras; Keep On Movin’, de Soul II Soul; Truque2, de Clarice Falcão; Euphoria (Season 2), Vários Artistas; Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão, de Marisa Monte; Mais, de Marisa Monte; Bad Girls, de Donna Summer; Profana, de Gal Costa; Island Life, de Grace Jones; Sour, de Olivia Rodrigo.
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Recomendo: essa semana tive uma grata surpresa com a newsletter de Isadora Sinay. Nesses tempos de busca de emprego e segurar a grana para que dure mais, importante lembrar de viver a vida.
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Sempre quis escrever algo com “mau” no título. Acho que chama a atenção: Bad Feminist, Bad Mother, Bad Romance, Anjo mau… Hoje foi o dia!
Pouco depois de enviar a última newsletter, fui agraciado com meu primeiro assinante da modalidade “membro fundador”! Gigio, muito obrigado!
Um cheiro de,
Arthur Tertuliano
Não que “vencer” fosse uma alternativa para uma banda com esse nome… Brinks! Gosto deles (não o suficiente para ter me esforçado pra ir na última turnê que fizeram), já os ouvi muito e estou ansioso para receber o LP de 4 que a Noize está enviando para mim.
Único que foi no Spotify, preparação pra estreia da nova turnê da artista.