Care você,
Na penúltima carta, fiz uma confissão: “uso a biblioteca do Parque Villa-Lobos mais como desculpa para pedalar e espairecer: simultaneamente, um exercício físico e um tipo de meditação”. Contudo, não estava preparado para o quanto ia fazer valer o que escrevi, ainda naquela semana.
A seguir, um breve registro.
Devolvi o quadrinho de Junji Ito a fim de ler Bom crioulo, de Adolfo Caminha, numa curiosidade suscitada por Regina Dalcastagné.1 Nessa visita à biblioteca, fiquei com vontade de também pegar mais dois títulos e decidi que voltaria no dia seguinte e devolveria outros dois.
Voltei no dia seguinte, já no finzinho do expediente, parte pela excitação de tentar ler as últimas páginas de O prego e o rinoceronte lá mesmo, parte porque queria passear de bicicleta2. No entanto, antes de subir as escadas da biblioteca para pegar os livros que tanto me interessaram no dia anterior, passei pela seção de quadrinhos e vi dois volumes da série DeathDisco, de Atsushi Kaneko, cujas capas me chamaram a atenção. Escolhi levá-los.
Como quadrinhos são uma leitura ligeira, no outro dia eu já estava de volta.3 Dessa vez, me permiti vagar pela biblioteca e xeretar outros livros traduzidos por Stephanie Borges — afinal, um dos que estava de olho foi vertido por ela para o português. Foi bem perto dos títulos da bell hooks que me deparei com esses dois, muito fininhos, cujas leituras prometiam ser num vapt-vupt. Pensando em como estava gostando de pedalar diariamente, não tive dúvida: levei-os.
Qual seria o equivalente literário para “ter o olho maior que a barriga”? A expressão serviria muito bem para o caso dessa vez. Duvidei da minha capacidade de não enrolar um livro com “direito” no título. Porém o dia estava bonito, a rede sob o sol estava convidativa e, quando me dei conta, já o tinha devorado.4
“É agora que eu pego o livro da Audre Lorde”, pensei enquanto pedalava. Mas ao devolver o Lafargue, vi um livro em capa dura numa cor tão bonita que precisei dar uma chance.5
O dia seguinte era um sábado e eu já tinha muitos planos: arrumar casa, ir ao lançamento do vinil Her Mind (Blossom Edition) da Urias e uma festa mais tarde. Não daria pra ler, correto?
Contudo sou desses que sempre saem com um livro consigo. Resolvi levar Toni Morrison comigo e… o evento estava bastante cheio. Juntou a fila imensa com a leitura fluida (e o tico de conforto por não precisar ficar em pé aguardando, graças às senhas numeradas) e eu devorei os seis ensaios ali mesmo.
Não é sempre que leio rápido assim — aliás, é bem raro —, mas gostei da sensação de desafio dessa semana em específico. Menos pelas leituras, aliás (de fato, quase todas deliciosas): pedalar todos os dias me deu um ânimo que há muito eu não sentia, fisicamente e mentalmente — ainda mais nesses tempos longe da terapia.
Recomendo demais e vou tentar fazer mais.6
JOGO RÁPIDO
O primeiro na vitrola: De primeira, de Marina Sena
Lendo agora: Uzumaki, de Junji Ito (tradução de Arnaldo Oka)
Último filme: Lisa Frankenstein, dirigido por Zelda Williams, com roteiro de Diablo Cody (Jennifer’s Body — Garota Infernal).
Rolê massa: Cachorragem, no Mariposa Bar.
Foi interessante terminar uma carta iniciada tanto tempo antes. Esquisito e interessante. Nessa edição, decidi ser mais sucinto ao final e gostei de como ficou o “Jogo Rápido”. Como apenas uma pessoa comentou na newsletter anterior, foi ele quem ganhou um livro diretamente da minha biblioteca: parabéns, Gigio!
O próximo o primeiro na vitrola ainda será Live and More, de Donna Summer.
Um beijinho com distanciamento social (pois resfriado),
Arthur Tertuliano
Junji Ito, sempre massa; Caminha, não foi dessa vez que consegui reler na íntegra, parei no começo do segundo capítulo.
Consegui terminar direitinho, porém o outro livro devolvido era grossão e eu nem tinha folheado direito. Ficou pruma próxima.
Arte nota 10, roteiro nota 4: três estrelas. Como a leitura é rápida, pretendo checar os próximos volumes de qualquer forma.
O tema também me interessou bastante: hoje se fala muito sobre redução da jornada de trabalho e melhoria da distribuição de renda com o avanço das tecnologias, mas não sabia que já se falava disso há tanto tempo assim. Esse livro foi publicado em 1855!
A edição na coleção Intrínsecos é a da foto abaixo. Pensei que esse eu nem conseguiria ler, mas no final das contas também foi uma leitura ligeira (contudo, não li em um dia apenas).
Ah, e se você estava curioso a respeito dos livros que pensei em pegar desde a primeira parte da carta, eram esses:
Uhu! Chorem os inimigos, eu venci!! Vou escolher com muito carinho minha recompensa na biblioteca recém-organizada. E sobre a newsletter de hoje, gostei especialmente da nota 4! Quero ler!