Devolva-me quando puder
Em que o leitor rememora livros emprestados (e possivelmente perdidos?)
Oioi, tá tudo bem por aí?
Eu tenho lido muito, MUITO, e por isso ando tão sumido. Para além de estar estudando para um concurso público, também estou lendo como se vivesse no mundo de Fahrenheit 451, clássico de Ray Bradbury, e precisasse devorar o máximo de livros antes que descubram — e incinerem — minha biblioteca. Alterno obras emprestadas das bibliotecas que frequento com empréstimos de amigos — devidamente acompanhados de indicações fervorosas — e as do meu acervo pessoal. São livros físicos e digitais, ebooks e audiolivros, numa imensa orgia1.
Acho que esse frenesi tem tudo a ver com a catalogação dos meus livros e a questão das estantes2. Durante as horas investidas na batalha com o Excel, inventei de acrescentar a coluna “doaria ou venderia?” à classificação dos volumes. Ela é justificável por inúmeras razões, mas vou me deter em duas: a necessidade de grana e a dúvida de que caberiam todos nas prateleiras. Fui homem de pouca fé, duvidei, mas couberam — o que me fez adiar os planos de criação de um sebo virtual.
A partir da contemplação das lombadas devidamente organizadas, senti mais forte a dor da falta de alguns títulos que sei que tenho, porém não estão nessas prateleiras. Surgem as dúvidas: Será que tentei reler a primeira edição de Quatro soldados, de Samir Machado de Machado, e ele acabou ficando em Natal? Será que painho disse pra si “esse eu vou terminar de ler” e por isso que Noites de alface, de Vanessa Barbara, não veio nas caixas que a transportadora trouxe para São Paulo? E quanto a Habibi, de Craig Thompson, e Hamlet: poema ilimitado, de Harold Bloom, que não vejo desde que encaixotei meus livros 10 anos atrás: onde estarão?
Geralmente não esqueço a quem empresto livros, mas procuro não ficar com isso na cabeça porque já tive uma tendência a querer cobrar coisas dos outros — e não há nada mais chato que apressar a leitura de alguém. E um dos motivos para querer ter tanto livro é justamente poder emprestar os títulos de que gosto quando faço amigos terem vontade de lê-los.
Tem livro que emprestei e desisti de recuperar, seja por ter parado de transar com a pessoa seja porque a amiga mudou pro Japão; tem livro de poesia favorito que talvez ainda esteja com o mesmo amigo que não vejo desde a pandemia; livros que provavelmente emprestei para alguém logo depois de terem sido devolvidos por outrem (e por isso o novo empréstimo não ficou registrado na memória); livros que não sabia que tinha emprestado, mas não fico surpreso: são bons demais para ficarem parados na estante, eu poderia indicar para qualquer pessoa.
Mesmo assim, sinto falta desses livros, tenho uma história com eles. Espero que estejam bem e eu possa revê-los algum dia. Fica aqui minha homenagem, com as capinhas daqueles que fui lembrando.
JOGO RÁPIDO
O primeiro na vitrola: Barbie, trilha sonora do filme dirigido por Greta Gerwig
Lendo agora: Nevada, de Imogen Binnie (tradução de Fernanda Abreu), publicado pela editora Todavia (a autora vem pra Bienal do Livro de SP, dia 15 de novembro!)
Último filme visto: Love Lies Bleeding — O amor sangra, dirigido por Rose Glass, disponível no Max
Rolê massa: show da banda Luísa e os Alquimistas em sua Turnê de Despedida, no Sesc 24 de Maio — finalmente tirei foto com Lulu!
Os assinantes premium recebem já já um post-scriptum exclusivo, em que exploro algumas digressões desta carta, sobre juntar bibliotecas e maratonar um seriado para ver a última temporada junto com mozão.
O primeiro na vitrola, como vocês devem ter percebido, está em hiato.
Beijão,
Tuca
Parei de citar todos os títulos aqui, mas atualizo o Goodreads diariamente, viu? Meu perfil tá aqui.
A memória é uma coisa engraçada. Assim que escrevi “a questão das estantes”, tive certeza de que era o título de uma coluna da Vanessa Barbara e… não é que eu tinha razão?! Hora de procrastinar um tantinho a carta só pra reler esse texto (de 2011!).
Gostei das reflexões! Até os últimos dias levarei a pergunta: "pra quem emprestei Mind: An Introduction"? A vida precisava ser como essas atividades de revistinhas, que a gente pode virar de cabeça pra baixo pra ver a resposta